
One Health: Um novo olhar para os desafios da Toxicologia e da regulamentação de Substâncias Químicas
O conceito de One Health (Uma Só Saúde) destaca a interdependência entre a saúde humana, animal e ambiental, propondo uma abordagem integrada para lidar com os principais desafios sanitários e ecológicos do século XXI. Embora a ideia de conexões entre diferentes formas de vida não seja nova, o termo One Health foi formalmente cunhado no início dos anos 2000 por especialistas em saúde pública e medicina veterinária, com base em discussões anteriores sobre zoonoses e saúde global. Em 2022, a relevância do conceito foi consolidada com a assinatura de um acordo quadripartite entre quatro organizações das Nações Unidas: a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Juntas, essas entidades se comprometeram a promover políticas que reconheçam e abordem as interações entre saúde, ecossistemas e bem-estar animal e humano.
Apesar de seu valor estratégico, a implementação prática do One Health representa um desafio significativo para a toxicologia e os atuais marcos regulatórios. Tradicionalmente, a avaliação de risco de substâncias químicas é feita de maneira compartimentalizada: um conjunto de dados é usado para avaliar os riscos à saúde humana, outro para o meio ambiente, e outro para organismos não humanos. No entanto, os princípios do One Health exigem uma visão mais integrada e sistêmica, que leve em conta os impactos cruzados —como uma substância que afeta microrganismos no solo e, indiretamente, a saúde humana por meio da cadeia alimentar ou da degradação ambiental.
Entre os principais desafios e oportunidades para aplicar One Health na toxicologia, destacam-se:
Avaliação Integrada de Risco
É necessário desenvolver metodologias que combinem dados de impacto ambiental, saúde animal e humana de forma integrada. Isso requer colaboração entre diferentes disciplinas e especialidades, além de uma mudança no formato convencional de avaliação do risco toxicológico.
Regulamentação Abrangente e Interconectada
Atualizar leis e diretrizes para refletir a lógica do One Health é essencial. As regulamentações devem considerar não apenas os efeitos diretos de uma substância, mas também como esses efeitos se propagam nos ecossistemas e nas cadeias tróficas.
Pesquisa Multissetorial e Transdisciplinar
Investimentos em pesquisa precisam priorizar o estudo das interações entre poluentes químicos e sistemas biológicos em diferentes escalas — do gene ao ecossistema — para compreender riscos de forma mais holística.
Capacitação Profissional
Formar profissionais preparados para trabalhar de forma colaborativa e interdisciplinar é chave para implementar o One Health. Isso inclui toxicologistas, gestores públicos, reguladores e cientistas de dados.
Em 2023, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reforçou o compromisso com a abordagem One Health, reconhecendo a necessidade de fortalecer as conexões entre saúde pública, saúde animal e meio ambiente para enfrentar ameaças complexas como pandemias, poluição química e degradação dos ecossistemas. Esse reconhecimento institucional marca um avanço importante para todos os setores envolvidos, inclusive para o campo regulatório.
Na visão da Aima Toxicologia, essa transição é não apenas necessária, mas trás oportunidades para inovação, ciência colaborativa e criação de arcabouços regulatórios mais eficazes. Ao integrar os princípios do One Health na avaliação e gestão de riscos químicos, podemos avançar em direção a uma forma mais justa, segura e sustentável de proteger a saúde planetária. É nesse contexto que o tema One Health será o foco central do 13º Congresso Mundial sobre Métodos Alternativos ao Uso de Animais em Ciência e Testes (WC13), que acontecerá pela primeira vez no hemisfério sul, no Rio de Janeiro, no mês que vem. Os diretores científicos da Aima marcarão presença no congresso, contribuindo com uma sessão dedicada ao tema One Health, onde serão discutidos o papel de modelos computacionais, além dos desafios e oportunidades para a implementação dessa abordagem em diferentes setores. A presença nesse evento reforça o compromisso da Aima com o avanço da ciência regulatória e a promoção de soluções inovadoras para um futuro mais sustentável.
Links para mais informações:
One Health na OMS: https://www.who.int/health-topics/one-health#tab=tab_1
One Health na OPAS: https://www.paho.org/en/one-health
WC13: https://www.wc13rio.org